sábado, julho 28, 2007

POESIARTE EM FOCO DE CLARENCIO RODRIGUES


A poesiarte apresenta: Clarencio Rodrigues. Ator-marionetista, artesão, professor,bonequeiro e animador cultural. Filho de Cabo Frio-RJ.


Vejamos um poema de sua autoria em homenagem a sua arte:

"O Boneco"

Minhas mãos, meus sentimentos,
Numa mutação constante
Promove mil movimentos.
Criando a cada instante,
Bonecos de luva,bastão,
Fios de nylon ou barbante,
Como sendo uma extensão
De minha mão empolgante.

Usando gestos ensaiados,
Cantando num tom preciso,
Êta, moleque assanhado!!!
Quando ataca num improviso
Altivo entre o monumento,
O Imperador da Empanada
Sem cetro, mas com muito talento
E bem atento, não liga pra nada.

Esse boneco faceiro
Usando seu dom carismático,
Conquista o mundo inteiro
Com esse jeito fantástico.
E sorrindo me sinto menino,
Quando num ato inocente
E dotado de um poder divino,
Transformo o boneco em gente.

(Clarencio Rodrigues)

sexta-feira, julho 13, 2007

POESIARTE EM FOCO DE LUIZ PRÔA


A poesiarte apresenta: Luiz Prôa. Poeta carioca,ativista cultural e editor do site Alma de Poeta.

Vejamos um poema de sua autoria:

"Heróis de espelho"

somos feitos

de tudo que nos cerca
de argila, madeira
poeira e pedra
somos palco
de uma peça
normais, humanos
loucos ou feras
somos aquilo
que não somos
artistas, retratos
heróis de espelho
somos nosso
maior receio
pior do que tudo
contágio do meio
mesmo que loucos
perdidos no verso
feiticeiros da vida
poema incerto
somos parte do todo
grãos de mistério
construtores do sonho
em busca do eterno


(Poeta Luiz Prôa)

sexta-feira, julho 06, 2007

ENTREVISTA COM JOAQUIM MONCKS

A poesiarte apresenta: Joaquim Moncks. Poeta de Porto Alegre-RS.

Vejamos uma entrevista feita pelo poeta Rodrigo Octavio ao poeta Joaquim Moncks:


CONVIVÊNCIA COM A POESIA
1- COMO VOCÊ COMEÇOU A GOSTAR DE POESIA?
Desde os sete anos, ao que me lembro, a poesia mexia com a minha cuca. Mas foi aos oito que recitei o primeiro verso. Era um soneto de autoria de meu pai, Joaquim Moncks (de quem herdei o nome literário), pelo qual ele homenageava o patrono de minha escola primária, em Pelotas, RS, lá por 1954. O soneto se chamava “Saudação a João Affonso”. Mas a paixão pelo verso começou aos 11 anos, quando fazia poemas plagiando os textos dos clássicos que apareciam no livro didático de Português. Impressionava-me, também, as fábulas de Esopo.
2- QUEM O INCENTIVOU?
O velho Quincas, que, a bem da verdade, era um filósofo amador. Sempre tinha uma tirada pra fazer a gente pensar. A ele devo a instauração do processo dialético que me tornou um inveterado perguntador.
3- QUE TIPO DE POESIA VOCÊ MAIS GOSTA E PREFERE FAZER?
Não tenho um temário preferencial, em poesia. Comecei como todos os versejadores, fazendo versos de amor pra agradar e segurar a amada. Aos 60 anos descubro que ainda os tenho como vitais, porque é necessário aprisionar o amor a qualquer custo. Eleger a vida como caminho é tracejar o amar em toda a sua essência. A transcendentalidade do verso renega a morte, sugerindo a imortalidade. Esta é a hipótese futurística pra todo o escritor: desejar estar vivo no coração de seu povo, na lembrança deste.
4- QUAL O SEU ESTILO DE FAZER POESIA, OU SEJA, QUAL O MODO QUE VOCÊ FAZ O POEMA?
Não tenho um estilo definido em minha obra, que soma sete livros publicados e mais de uma centena de participações em antologias e coletâneas impressas. Acresça-se a presença em sítios para escritores, na Grande Rede, como o Recanto das Letras, que soma quase 12.000 escritores e onde tenho 400 textos, em prosa e verso. Em poesia, percebo que o leitor encontra em mim um instigador para a sua reflexão. Não pretendo dar respostas a quem consome o meu texto e, sim, criar questionamentos, dúvidas. Talvez por estar na maturidade dos 35 anos de publicação do primeiro livro, percebo que já tenho mais facilidade em traduzir em vocábulos o que pretendo. A palavra é sempre um desafio. Não acredito muito em inspiração. É a transpiração, o trabalho sobre o fruto da emoção, o que mais me caracteriza e no que mais acredito. A vertente lírica continua sendo a água mais pura de minha cacimba, a menos sobeja, a mais frágil, porque retrato do humano.
5- O QUE LHE REPRESENTA SER POETA?
Um homem com um estado de espírito diferenciado. Ser lambido pela eterna poesia é tão efêmero como o acender e o apagar de uma lâmpada. Não me digo poeta, os outros que o digam.
6- O QUE REPRESENTA A POESIA PARA VOCÊ?
Uma sensação permanente de condenação ao pensar. Algo que nunca saberei traduzir como palpável. Mas, por ser permissiva, me convida ao brinde com o meu irmão leitor.
7- QUAIS OS GRANDES ÍCONES DA POESIA BRASILEIRA E MUNDIAL QUE MAIS LHE AGRADAM?
Vinicius, Bandeira, Drummond, Jorge de Lima, Augusto dos Anjos, Catulo da Paixão Cearense, Mario Quintana, Adélia Prado, Cecília Meireles, Lara de Lemos, Lila Ripoll, Lya Luft, dentre os nacionais. Baudelaire, Rilke, Brecht, Maiakovski, Octavio Paz, Ezra Pound, Gregory Corso, Jack Kerouac e o mais incrível deles, o português do Universo: Fernando Pessoa.
8- VOCÊ JÁ PARTICIPOU DE RECITAIS DE POEMAS? SE PARTICIPOU, CITE ALGUNS DE REAL IMPORTÂNCIA.
Sim, tenho trinta anos de afiliação à Casa do Poeta Rio-Grandense, e isto quer dizer estar permanentente no palco. No mínimo uma vez por mês, às primeiras terças-feiras, na promoção Cafezinho Poético-Musical. O mais importante foi o recital comemorativo aos 80 anos de Vinicius de Moraes, em 1993, no Auditório Bruno Kiefer, da Casa de Cultura Mario Quintana, em Porto Alegre, quando interpretei no palco a figura do homenageado. Tomei um litro de uísque como fosse água. Vinicius estava dentro de mim. E olha que não sou um bom bebedor de uísque.
9- QUAL A SUA VISÃO SOBRE A CULTURA, PRINCIPALMENTE NO CAMPO DA LITERATURA?
De um país que tem a sua média de leitura em 3,8 livros/ano/habitante não se pode esperar muito em termos de cultura universal e literária. Mas os dados vêm melhorando. O Rio Grande do Sul lê quase o dobro da média nacional, graças ao esforço de seus professores e ativistas culturais, os quais realizam Feiras do Livro em cerca de 30% dos municípios que compõem o Estado. As crianças acostumaram-se, nos últimos 52 anos, a ir à Feira do Livro, e os professores das séries iniciais ensinam aos alunos que é preciso guardar dinheiro para comprar livros no período de Feira Municipal e naquelas que a Escola promove. Hoje em dia os alunos não mais chegam ao escritor com um papelzinho na mão pedindo autógrafo, fazendo mera tietagem, como ocorria há cerca de 10 anos atrás, fato que ainda ocorre em muitas regiões do país. É isto o que se nota nos milhares de festivais de música, no Brasil. Cultiva-se a tietagem, a veneração dos ícones populares. Durante quinze dias, iniciando na última sexta-feira de outubro de cada ano e se estendendo até o domingo da segunda semana de novembro, ocorre, há 52 anos, a Feira do Livro de Porto Alegre. Em 2006 foram vendidos 650.000 livros nesta que é a maior Feira de Livros em espaço aberto, na América Latina. O Brasil é um país continental e tem redutos importantes de cultura popular que estão sendo fomentados pelos projetos privados com verbas hauridas junto aos governos federal e estadual, através das Leis de Incentivo à Cultura. No entanto, as verbas orçamentárias para o setor cultural são parcas em todo o país. A tiragem média dos livros de Poesia por editoras é da ordem de 1.000 exemplares, enquanto as edições americanas e européias são de tiragem de cerca de 5.000 unidades, principalmente francesas e alemãs. As edições japonesas chegam a 10.000 exemplares, em livro de poesia, chegando ao leitor a preço baixo, subsidiadas pelo governo federal nipônico, que tem, inclusive, recomendado intervalos obrigatórios, nas indústrias, para sessões de leitura. Nestas utilizam-se livros doados pelo governo e leituras feitas por profissionais contadores de histórias. No Brasil a realização de concursos literários, por órgãos governamentais, associações literárias e ativistas internáuticos, tem ajudado no processo cultural literário. O advento do computador e a pesquisa na NET têm criado alguns nichos de leitura nos grandes centros do país. Nada de pesquisa em profundidade, mas surge alguma ajuda através dos arquivos que a NET apresenta. Apesar disso, algumas destas informações são precárias e utilizam fontes sem certificação de veracidade. A escola pública continua pobre de livros e poucos estabelecimentos oficiais têm bibliotecas dignas de nota. Em todo o país há um condenável hábito em relação a bibliotecas escolares: em geral não há bibliotecários de carreira nos estabelecimentos de ensino. Os professores em processo de aposentadoria e outros que apresentam freqüentes licenças médicas atuam nas bibliotecas. O resultado é previsível: os alunos não são incentivados à leitura e os acervos bibliográficos não são bem organizados e tampouco conservados. Falta o especialista que necessita se afirmar como profissional respeitado no setor do livro. É profissão a ser prestigiada pelos governos municipal, estadual e federal.
10- VOCÊ JÁ PUBLICOU ALGUM LIVRO? SE JÁ, CITE O NOME DELE E O ANO EM QUE FOI PUBLICADO?
De 1973 até 2005, entreguei ao público sete livros individuais, no gênero Poesia: ENSAIO LIVRE (plaqueta), 1973; FORÇA CENTRÍFUGA, 1979; ITINERÁRIO (?), 1983; O EU APRISIONADO, 1986; O SÓTÃO DO MISTÉRIO, 1992; O POÇO DAS ALMAS, 2000, e OVO DE COLOMBO, 2005. Tudo o que publiquei em prosa está disperso em mais de uma centena de antologias e coletâneas. A primeira delas data de 1977 e a última é de 2007. Pretendo reunir a minha produção prosaica num livro que possivelmente se chamará CONFESSIONÁRIO – Diálogos entre a Prosa e a Poesia, que sairá no ano de 2008.
11- JÁ FEZ ALGUM PROJETO OU PARTICIPOU DE ALGUM EM REFERÊNCIA À POESIA?
Criei, executei e participei, em dezoito Estados da Federação Brasileira, de mais de 50 (cinqüenta) projetos poéticos ou correlatos, nestes últimos trinta anos de associativismo literário.
12- QUAL A POESIA DE SUA AUTORIA, AQUELA PELA QUAL VOCÊ MAIS POSSUI AFEIÇÃO?
Não tenho afeição ou preferência por nenhum poema em especial. Segundo a situação que estou vivendo, percebo, por vezes, que algum deles se adapta à situação real, momentânea, e tenho a sensação de que há alguma verdade plausível em seu contexto, e a entendo válida como observação. Assim, ao menos naquele instante, a aparente verdade exposta no poema parece ter correspondência no mundo real. Sei que a proposta poética não se destina a interferir diretamente na realidade dos fatos, mas, o que fazer? Todos queremos um mundo mais feliz, socialmente mais justo, e no qual haja a presença da Paz entre pessoas e Povos. No mais, brigo com a idéia traduzida pela palavra durante todo o tempo. É briga feia, extenuante, infinita. Nunca morri de amores pelo meu texto. Mas gosto de saber que a inutilidade de fazer poesia pode servir pra alguma coisa: mitigar a ansiedade e a angústia, criando perspectivas de esperança, de gozo ou de prazer.

*Entrevista publicada no site: http://recantodasletras.uol.com.br/entrevistas/487479 em 15/05/07.