sábado, abril 23, 2011

MALHAÇÃO DE JUDAS É CULTURA E HISTÓRIA!




Cidades brasileiras, tradição vai diminuindo a cada ano. Costume trazido pelos portugueses e espanhóis para toda a América Latina, a malhação do Judas no sábado de Aleluia aos poucos vai desaparecendo das grandes cidades, restringindo-se cada vez mais ao interior do Brasil: Malhar o Judas.
Tradição folclórica que exterioriza emoções
Dia de malhar Judas. Seja na forma de um político – Collor, Zélia e seu plano econômico não vão sair ilesos -, de um dirigente, da fofoqueira do bairro ou qualquer pessoa que incomode, os bonecos vão subir aos mastros dos postes e, ao meio-dia, serão malhados a pauladas, explodidos, queimados, atropelados, enfim, eliminados. Como bodes expiatórios, é neles que o povo vai extravasando a sua insatisfação com a situação reinante.
No começo, o boneco representava a figura do Judas Iscariotes; aos poucos, outras personagens foram substituindo o traidor de Cristo, numa manifestação folclórica tradicional, da qual participa toda a comunidade, do avô ao neto. Os nossos Judas aparecem em postes, amarrados em carros, deitados nas ruas e, em muitos casos, deixam até testamentos. Além disso, às vezes, o ato da malhação é realizado ao som de músicas especialmente compostas para a ocasião.
A malhação de Judas está incorporada aos costumes dos povos de quase todo o mundo. Segundo a folclorista Meire Berti Gomiero Fonseca, que vem pesquisando o assunto há alguns anos junto com equipes formadas por seus alunos, a queima do Judas parece se relacionar ao rito pagão do Fogo Novo, herdado dos hebreus, sobrevivendo entre os povos civilizados. Na Córsega, no século XIX, era costume um grupo de rapazes percorrer no Sábado de Aleluia as comunas da ilha gritando “Fogo Novo”; na Lorena Francesa, esse fogo era feito com palma benta dos anos anteriores na porta do cemitério; na Alemanha, vestiam um menino de Judas, para depois sofrer a prova do fogo sendo balançado pelos mais fortes e altos por cima da fogueira.
Cada lugar incorporou a queima de Judas de uma forma. Em Mittelbron e Nelling, os bonecos eram queimados em frente aos cemitérios e igrejas; no Alto Reno, queimavam-se vestimentas e ornamentos eclesiásticos no cemitério, bem como velhas cruzes e caixões. Na Suíça, o Judas era morto com fuzil, queimado, havendo o costume de quebrar louças sobre ele, enquanto em Portugal era submetido a julgamento, depois enforcado e queimado, o que provocava estouros de bombinhas colocadas dentro do boneco.
Há países em que a queima do Judas representa um repúdio às forças do mal e, por isso, o ato é praticado no início ou no fim das colheitas, para espantar os demônios que esterilizam as plantações. No Brasil, por sua vez, sabe-se sobre a malhação de Judas desde o século XVIII, quando, no Rio de Janeiro, os bonecos traziam fogos de artifício presos no ventre, que eram acesos no Sábado de Aleluia, e ardiam sob os aplausos frenéticos do povo, como uma vingança à morte de Jesus.
Ainda segundo Meire Berti, as primeiras descrições desse evento no Brasil foram feitas pelo gravurista Jean Baptiste Debret. De acordo com ele, o Judas era confeccionado com roupa e tecido de palha, com máscara e boné de lã que lhe formava a cabeça. Também eram colocadas bombas nas juntas para melhor dilaceração das partes na hora da queima, que era precedida pelo enforcamento.
“Na dinâmica do folclore, a figura do Judas Iscariotes foi substituída por críticas à situação reinante”.
O Judas de antigamente não é mais o mesmo. O traidor de Cristo de hoje veste roupas e sapatos modernos, usa gravata e chapéu e tem, até mesmo, companheira, que vai para a fogueira junto com ele. O Judas de hoje não pode falar, mas muitas vezes seu recado vem através de uma tabuleta, onde quem o executa extravasa toda a sua insatisfação. Além disso, em muitos lugares no Brasil, faz-se até o seu julgamento e, antes da malhação, lêem o seu testamento, que, na maioria das vezes, é apresentado na forma de versos. A Brincadeira da Malhação do Judas era feito no sábado de Aleluia, isto é,  no  sábado anterior  a  páscoa.
Tudo começa na noite de sexta feira quando se pendurava em um poste da ELFFA (celesc) perto  de casa  um  boneco  representando  o Judas. Para se confeccionar o Judas usava-se :
  "Uma calça masculina, um par de meias masculinas, uma camisa
     de mangas compridas, luvas mas se não tiver pode usar meias
     masculinas também e um saco para fazer a cabeça do Judas."
Tudo  isso  era  costurado  ligando  uma  peça  a  outra, na  camisa se costuravam a calça, as luvas, o saco para a cabeça, nas pernas da  calça se costuravam as meias para se fazer os pés. Tudo isso  era preenchido  com  palha,  serragem ou restos de papéis, para ficar parecido  com uma pessoa. Depois de pronto amarrava-se o Judas noposte.  Em geral dava-se a ele o nome de uma pessoa da comunidade ou  de  um  político.  Uma placa pendurada no pescoço ostentava o nome que jocosamente lhe era dado.
No Sábado o Judas já amanhecia pendurado no poste. Conforme as crianças iam  acordando,  já  vinham  reunir-se junto ao poste à espera da brincadeira.  Em  geral,  eles  se  armavam  com um pedaço de pau, sarrafo  de  cerca  ou  algo  parecido. Lá pelas 9 ou 10 horas da manhã  alguém  descia  o  judas  do  poste, amarrava uma corda no pescoço  ou  por  baixo dos braços do Judas, para poder puxar sem ele se partir.
 Ao grito de ” vamos malhar o Judas” um pegava  na corda e saía correndo com  o  Judas amarrado e o resto da turma ia correndo atrás com o pedaço  de  pau  a  bater  no  Judas, faziam isso ate que o Judas começasse  a  se desfazer por causa das pancadas, ai então ateava-  se fogo  ao  Judas e saia correndo com ele novamente, até que não sobrasse  mais nada. Só sobrava a corda e muitas vezes ela também era incendiada.   
A tradição é amarrar os bonecos nos postes. Muitas vezes, eles são enforcados, mas, em outras, eles aparecem pendurados nas casas, deitados no meio da rua – caso observado ano passado, quando ao lado de um defunto existia uma tabuleta com as palavras Cruz Aids – ou sentados ao redor de uma mesa – na época da Diretas Já, foram encontrados, bonecos que focalizavam políticos confabulando numa mesa de negociação. O que o brasileiro põe dentro dos bonecos, para estourar ou queimar, também é muito variado: uns usam estopa embebida em querosene, outros fabricam até pólvora artesanal para explodir dentro dos Judas.
Na hora da malhação, é característico, entre as crianças e adultos, usar paus com pregos e a exteriorização dos sentimentos através de frases do tipo: “Maldito! Traidor! Vamos matar esse patife! Vamos queimar essa porcaria! Um dia da caça, outro do caçador!” e muitos ouros. “Além da aceitação coletiva, pois toda a comunidade participa na confecção e malhação do Judas, essa tradição folclórica popular deve ser vista dentro de um contexto muito mais rico, já que nele encontramos um pouco e tudo: literatura (nos testamentos), provérbios folclóricos e música. É lógico que não em todos os lugares.





Um comentário:

Reinaldo Lamenza disse...

É realmente uma tradição que com o passar dos tempos esta a muito descaracterizada. Antes malhávamos o Judas num poste, hoje malhamos na Internet, num mundo virtual. Qual a graça da malhação do pobre Judas, senão malharmos os nossos políticos e algumas pessas de alguma comunidade, aí é que esta o interessante desta História. Judas representando uma sociedade hipócrita e seus falsos valores, então eu malho o coitado todos os dias.