sábado, dezembro 03, 2011

JOAQUIM MONCKS: O MESTRE DOS PAMPAS DO SUL!

*Arte de Fátima Queiroz.


POESIA E POEMA NÃO SÃO SINÔNIMOS

Joaquim Moncks

POESIA é a celebração da palavra num andamento diferenciado do que utilizamos para a comunicação no dia-a-dia. Música que surge através do jogo de vocábulos numa encantada linguagem. Poesia é essa pronunciação rítmica que as palavras produzem. Poetizar é a vivificação da beleza linguística, a utilização da palavra em sua indumentária de festa e não a da lida quotidiana. Por esta razão, a constatação da Poesia não é uma situação comum, permanente. O pretenso criador há que estar possuído de uma inquietação incomum: haver entrado em “estado de poeticidade”.

POESIA, enfim, é a voz do ‘sentir’, aquilo que vem do âmago do ser, que é imaterial. É dessa maneira que a criatura humana libera os anseios e inquietações que povoam os esconderijos da sensibilidade. Quase sempre é o replicar da memória buscando augúrios de felicidade para enfrentar o momento hostil – difícil – em busca de um momentâneo estado de sublimação, resignação e/ou expectativa de que sobrevenha a alegria e o prazeroso estado espiritual compensatório do viver pessoalizado.

Para se chegar à POESIA, necessário se torna que tenhamos, no texto, alguns efeitos de estilo aos quais se chega através da presença das figuras de linguagem ou tropos – emprego de palavra ou expressão em sentido figurado – que levem à utilização dos vocábulos em sentido CONOTATIVO: “idéias e associações ligadas, pela experiência individual ou coletiva, a uma palavra”, segundo o Aurélio. O sentido figurado empresta ao pensamento energia, vivacidade, elementos de movimento. Pode conferir à frase beleza ou graça, ainda segundo a mesma respeitada fonte.

Na experiência diária – nas diversas situações da vida de relação – os vocábulos são utilizados no sentido DENOTATIVO, característico da linguagem usual, quotidiana. Nada de utilização, portanto, do sentido figurado. Muito pouco ou nada de Poesia.

O POEMA é a inquietação traduzida em vocábulos poéticos. Linguagem única para um momento único: a vida, em Poesia, surge do nada e canta a sua peculiar linguagem. É o homem pedindo socorro para o presente e hasteando o estandarte do Futuro.

O POEMA, mesmo tendo como assunto ou conteúdo situações do presente, sempre remeterá ao futuro. Isso ocorre logo após a confecção do poema e sua chegada ao mundo dos fatos, da realidade. Pelo corpo textual vindo a lume, há um novo mundo, um novo estado, uma nova coisa a ser mostrada para quem tem capacidade para traduzir o Novo: o mundo em reconstrução. Tanto pessoal quanto coletivo.

A POESIA se corporifica, materializa-se na voz do POEMA. Um é o continente, o outro o conteúdo, aquilo que se contém nalguma coisa. Poesia se identifica com Poeticidade. Também designa o gênero literário, com suas variadas espécies: haicai, acróstico, soneto, quadra, trova literária, etc., e, na contemporaneidade formal, o POEMA, composto de versos brancos, livres, sem rimas.

Portanto, a POESIA é imaterialidade e gênero literário. Já o POEMA é a materialidade concreta desse estado de poeticidade, composto por versos, expresso através de vocábulos. Palavra enfeitada pra dizer do sentir e do sonho. Tudo pra tornar o mundo mais bonito, mais palatável. Digno de ser vivido.













*Joaquim Moncks - poeta gaúcho, ativista cultural, acadêmico de várias entidades no Brasil e grande estudioso da arte poética.
– Do livro TIDOS & HAVIDOS, 2011.
http://www.recantodasletras.com.br/teorialiteraria/3153535

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